Tenho a palavra you tatuada na face, do lado esquerdo. É vaga a lembrança de ter feito essa marca na carne, um dia qualquer de maior dissociação, de maior névoa, mas é bem viva a razão de o ter feito. Foi escrita com uma navalha, desajeitadamente a adivinhar o contorno do teu próprio rosto, parece quase um borrão em cirilico, mas à luz clara das madrugadas lê-se bem you e o seu sentido. Nunca olhei para mim assim, nunca quis ver, não sei como se parece, afinal, esse teu retrato em letras, mas todos me dizem que é assim e que lá está a acentuar-me a linha das maçãs do rosto. Deixei crescer a barba uma vez para esconder esse segredo ostensivo, não por arrependimento ou vergonha, mas para que fosse mesmo segredo, para que só eu soubesse, mesmo se apenas a adivinhar, que te levava para todo o lado. Quando me arrependi fiz outras coisas, truques infantis com desenhos e ácidos que apenas avivaram mais a evidência. Depois deixei ficar. Sou eu, assim. Contigo, por dentro e por fora. É assim que fico. cn, a mala vazia
Tenho a palavra you tatuada na face, do lado esquerdo. É vaga a lembrança de ter feito essa marca na carne, um dia qualquer de maior dissociação, de maior névoa, mas é bem viva a razão de o ter feito. Foi escrita com uma navalha, desajeitadamente a adivinhar o contorno do teu próprio rosto, parece quase um borrão em cirilico, mas à luz clara das madrugadas lê-se bem you e o seu sentido. Nunca olhei para mim assim, nunca quis ver, não sei como se parece, afinal, esse teu retrato em letras, mas todos me dizem que é assim e que lá está a acentuar-me a linha das maçãs do rosto. Deixei crescer a barba uma vez para esconder esse segredo ostensivo, não por arrependimento ou vergonha, mas para que fosse mesmo segredo, para que só eu soubesse, mesmo se apenas a adivinhar, que te levava para todo o lado. Quando me arrependi fiz outras coisas, truques infantis com desenhos e ácidos que apenas avivaram mais a evidência. Depois deixei ficar. Sou eu, assim. Contigo, por dentro e por fora. É assim que fico.
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